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quarta-feira, 10 de novembro de 2010

As montanhas Imortais

 Há muitos anos atrás corrias nas estepes mongóis um rio largo mas pouco profundo. A sua água era tão clara que se podiam ver todas as pedras do fundo. A oeste do rio morava uma bela rapariga chamada Suola, que vivia em paz com a sua mãe;a leste vivia um prícinipe cruel com os seus criados.
 Na casa do príncipe havia um rapaz,cujos pais,pastores pobres,tinham morrido quando ele ainda era uma criança.Não tinha nome e, como desde pequeno que guardava o gado do príncipe chamavam-lhe "o pastor."
Levava uma vida muito dura, todos os dias de manhã muito cedo partia com o gado e só à noitinha é que voltava para casa. Não comia o suficiente, passava frio porque andava mal vestido e ainda por cima, por vezes, era chicoteado pelo príncipe.Ora uma Primavera, quando já não fazia tanto frio e as flores começavam a despontar, ele começou a reparar numa bela rapariga que sempre que ele passava junto do rio estava na outra margem e lhe sorria.A princípio, o pastor não lhe prestou nenhuma atenção, mas mais tarde, ao ver que todos os dias ela lhe sorria, começou a amá-la.
Um dia quando voltava com o gado e passava na margem do rio, viu a moça levantar a mão e lançar-lhe qualquer coisa. Desceu do cavalo e apanhou o embrulhinho,era um pedaço de queijo e uma linda bolsa bordada, de cor rosa. O pastor olhou para a outra margem e viu a rapariga sorrir-lhe.
 Desde essa altura, passava muitas vezes para o lado de lá do rio para ir conversar com ela; soube assim que ela se chamava Suola. O tempo passou e os dois cada vez mais estavam enamorados e já não podiam viver um sem o outro. Sempre que ia guardar o gado, ele levava consigo a tão preciosa bolsa e contemplava- a com amor. À noite, antes de adormecer, punha-a  debaixo da almofada.
 Um dia quando cavalgava à beira do rio, o príncipe viu Suola que estava a lavar roupa. Parou e olhou- a cobiçosamente. Depois apontando com o chicote, ordenou para os seus criados:
  - Vão buscar-me aquele passarinho.Gosto dele. E... rápido!
 Deu uma grande gargalhada e partiu a cavalo sem esperar pelos criados.
 Nessa mesma noite, Suola estava já na casa do príncipe que quis fazer dela sua concubina. Ela, louca de raiva chamou-lhe quantos nomes pôde. O príncipe ficou vermelho,puxou o punhal e gritou-lhe:
  - Ou te calas ou te corto a cabeça!E vê la o que dizes,Psssiu! E chamando os criados:
  -Ei! Vocês aí!Metam essa mulher nas masmorras.
 A meio da noite, quando já tudo estava calmo no palácio, Suola, sozinha, ali naquele cárcere escuro, chorou e ardendo de raiva, pensava como é que podia haver homem tão cruel. Pensava ainda no seu amigo, de coração desesperado, por não poder fugir dali.
 Logo que soube o que se tinha passado, o pastor ficou louco de raiva e resolveu ir salvar Suola.
 Depois da meia noite e enquanto o guarda dormia a sono solto, passo ante passo, entrou no cárcere, agarrou na mão da moça e disse-lhe, baixinho:
 - Embora! Vamos fugir.
 Os dois montaram a cavalo mas quando estavam mesmo para partir, os cães do príncipe deram conta e lançaram-se contra eles. Mas o rapaz puxou o chicote e fugiu com Suola.O carcereiro acordou de repente e quando viu que a prisioneira tinha fugido, aterrorizado, correu para avisar o seu senhor.
 Ao ouví-lo, o príncipe, ficou furioso e mandou cavaleiros para os perseguirem.
 De manhã cedo, os dois jovens foram apanhados e conduzidos ao palácio.
 Assim que viu o pastor, o príncipe abrindo muito os olhos, gritou:
 - Ah! Foste tu, miserável?! Quem é que te deu a ordem para soltar esra rapariga? E como é que te atreveste a fugir com ela?
 Mas o pastor não teve medo. Durante anos, o ódio e a cólera encheram-lhe o coração a tal ponto que ele não conseguia mais escondê-los.Ergueu-se e cheio rancor, apontando para o príncipe, disse:
 - Julgas-te no direito de raptar à força uma rapariga que não te pertence? Responde! E que mal fiz eu ao tentar salvá-la?
 Esta palavras impressionaram-no a tal ponto que ficou de boca aberta,embaraçado e furioso, abanou a cabeça e gritou para os criados:
 - Prendam este desavergonhado.Atem-no ao poste e soltem os cães contra ele.
 Perdida,Suola correu para junto do príncipe e agarrada a ele, gritou:
 - Não podeis fazer isso!Não podeis!
 - Sai daqui! - respondeu ele,insensível, E com um pontapé, fê-la cair por terra e foi-se embora.
  Suola levantou-se.Ouviu os cães a ladrar e depois um grito de dor.Um suor frio correu-lhe pelo  corpo e sem pensar no perigo correu porta afora.Viu o pastor atado com o corpo coberto de sangue; uma dezena de cães devoravam-no. Soltou um grito de aflição e desmaiou.
  Pouco depois do pastor morrer, o príncipe quis obrigar Suola a casar com ele, mas ela recusou. Não deixou de pensar no seu amigo,ficou vários dias sem comer nem beber até que a morte a levou.
 Para que os dois não se pudessem encontrar depois de mortos, o príncipe mandou lançar o cadáver do pastor na margem oeste do rio e mandou enterrar Suola na margem leste. Nesse mesmo dia, à tarde, no lugar onde um velho pastor caridoso tinha lançado o rapaz, surgiu uma pequena colina.
  Três dias depois da morte de Suola , o príncipe viu-se num sonho os  dois jovens a descerem do céu que lhe apontavam um dedo reprovador e lhe diziam:
  - Assassino! A não ser que te transformes em tartaruga,tu nunca mais poderá separar-nos.
 No dia seguinte pela madrugada, ergueram-se dois montes por cima das duas tumbas. Os seus cumes tocavam-se e formavam uma grande ponte sobre o rio.
 A novidade depressa chegou aos ouvidos do príncipe.Acompanhado por um criado foi até o riu e viu, de fato duas montanhas que se elevavam da planíce. Percebeu que era uma metamorfose dos dois jovens e deu uma gargalhada de chacote.Mandou viu os homens que trabalhavam nas pedreiras e ordenou-lhes que separassem as duas montanhas.
 Os homens trabalharam bastante mas não havia maneira de conseguir em separar os dois cumes. À medida que os escavavam, mais os dois picos se juntavam. O príncipe ardia em cólera.Chamou todos os trabalhadors do país e mandou-os trabalhar dia e noite.Ao fim de alguns dias, caíram , esgotados, pelo cansaço, não conseguindo sequer levantar um braço,sem que tivessem conseguido separar as duas montanhas. Furioso, o príncipe subiu por uma delas e lá de cima no lugar onde as duas se tocavam de pé, gritou:
 - Bando de incapazes! Se não as separarem até o fim do dia mato - vos a todos.
 Mal acabara de pronunciar estas palavras, um tremor de terra sacudiu de repente as duas colinas. Ouviu-se um ruído de trovão e as montanhas separaram- se bruscamente. O príncipe desequilibrou-se e caiu de costas no rio. Os trabalhadores correram para lá mas não viram senão uma grande tartaruga que se mexeu um pouco mas que logo ficou imobilizada.
 Depois que o príncipe cruel se tranformou assim numa tartaruga de pedra, as duas montanhas separaram-se para sempre. E orgulhosamente ali estão cada uma do seu lado do rio. Chamam-lhe de "As montanhas imortais." Mas o que é que aconteceu à tartaruga de pedra,essa metamorfose do príncipe? Durante anos a força de água desgastou-se e pouco a pouco foi ficando cada vez mais pequena até que desapareceu para sempre.


P.s: Sei que o conto é bem longo,mas vale a pena ser lido.
Retirei-o do "Contos Populares Chineses" 2º volume. Editora Princípio.

Um comentário:

  1. A muito tempo minha professora leu essa historia pra mim e eu a achei tão linda q precisava relê la.

    Thanks

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